quinta-feira, 23 de junho de 2016

O Haiti é aqui

Há pouco menos de um mês internou na Clínica Médica do Hospital Cardoso Fontes um sujeito vítima de acidente vascular cerebral isquêmico.

Provavelmente várias pessoas foram internadas no mesmo dia vítimas da mesma doença em vários serviços de Clínica Médica, de Neurologia, de Emergência, de Terapia Intensiva por aí a fora.

Mas Jean Robert tem uma história sui generis.
Cada paciente tem uma história sui generis, é verdade, mas o fato é que de todas as histórias sui generis de todos os pacientes internados com AVC já cerca de um mês, a única que eu conheço é a de Jean Robert.

Refugiado haitiano, além do créole do seu país natal Jean Robert também fala francês, inglês, espanhol e português. Trabalha na construção civil, e recentemente foi demitido de seu último emprego.

De repente o jovem haitiano poliglota tem um AVC isquêmico e fica afásico. Tudo o que ele fala soa como Haiti. Além da afasia, também desenvolveu paresia da metade direita do corpo. Pensei em fazê-lo se comunicar por escrita, mas é destro e não consegue segurar a caneta. Compreende bem as ordens em português, em francês, em inglês. Close your eyes, e ele fecha os olhos. Élevez le bras, e ele levanta um pouco o braço direito com dificuldade, ajuda com o esquerdo e leva uma chamada, Sans aide. Não tentei em espanhol, e não saberia tentar em créole.

Conheci Jean Robert ele já estava internado havia 3 semanas. Tinha evoluído muito bem com Fisioterapia e Fonoaudiologia.
Hoje soube que teve alta.
No mesmo dia em que soube que outro haitiano, também chamado Jean, também vítima de AVC, mas hemorrágico em vez de isquêmico, faleceu na Emergência.