sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Visita à enfermaria de Pediatria

Quarta-feira no fim da tarde resolvi fazer uma visita à enfermaria de Pediatria. Conversei com as mães e acompanhantes, conversei com as crianças (pelo menos com as que falam).

Na enfermaria de berços, cinco crianças.
Um menino de 2 anos com diabetes tipo 1 recém diagnosticado. Está sendo acompanhado pela Dra. Luciana Porto. Sabe, eu sou da Endocrinologia Pediátrica, mas estou na Direção do hospital. Se fosse uns meses atrás seria eu acompanhando o seu filho. Mas com a Dra. Luciana você está muito bem, que ela é ótima!

Uma menina de 5 meses internada há dois, nascida pequena para a idade gestacional, com 40 semanas, 39cm e 1800g. Por que será que a bebê PIGminha me chamou à atenção, né? A diferença entre ela e Letícia é que Letícia está recuperando o crescimento, e ela não. É tão miudinha! Outra diferença: bebê é carequinha, sem sobrancelhas e sem que Letícia está recuperando o crescimento, e ela não. É tão miudinha! Bebê acabou herdando umas roupinhas de Letícia que eu levei para doar no hospital.

Na enfermaria de camas, outras cinco crianças. Mais parecia um salão de jogatina do que uma enfermaria de hospital. Dos cinco, três estavam jogando joguinhos no celular.
Fui falar com o menino no leito do canto.
O que houve com você?
Levei um tiro.
E me contou a história. Estava atravessando a Grajaú-Jacarepaguá, passou um carro, um homem à janela abriu fogo e o acertou pelas costas. E tal e coisa e coisa e tal. Lá pelas tantas, Tio, ele me perguntou, você é polícia? Nãaaaaao, respondi, eu sou médico. Por quê? Você está fazendo tanta pergunta! Não não, sou médico, sou da Direção do hospital e estou fazendo uma visita. Mas posso contar sua história para a polícia... se você deixar. Eu deixo, tio.
O que você vai ser quando crescer?, eu perguntei. De uma da manhã ao meio-dia vou ser Urbe (sic). O que é Urbe, interrompi. Urbe! Motorista de Urbe. Aaaaaah tá... Uber. Então, tio... de uma ao meio-dia vou ser motorista de Urbe. De meio-dia às três da tarde, bombeiro. Das três às seis, polícia. E das seis até meia-noite, motorista de táxi. Mas rapaz, a que horas você vai comer, dormir, brincar com seus filhos...? É verdade, né, tio... acho que não vou ser motorista de táxi não. E cara, vamos rever isso aí, que não dá pra ser bombeiro de meio-dia às três. Ou você é bombeiro ou não é.

Pessoas. A gente não pode esquecer que o que a gente faz é pelas pessoas. Pelas vidas que estão ali. Tantas. Tão diferentes. Tão únicas.