quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Alvos móveis... Atropelamento e fuga

Vindo do Hospital Cardoso Fontes para a Taquara hoje à hora do almoço, booooom!, eu estava na Av. Geremário Dantas próximo à rua Cândido de Figueiredo (para quem não liga o nome à pessoa, a ladeira que tem o Banco do Brasil à esquina, e que no alto tem o Colégio Estadual Stella Matutina) quando um carro veio sabe-se lá de onde, uma estudante veio sabe-se lá de onde, ela foi jogada para o alto e caiu no asfalto. O carro vinha em sentido contrário ao meu, Taquara -> Pechincha. Atravessei a pista contrária e parei sobre a calçada. Corri para a menina estirada no chão de barriga para baixo, acordada ma non troppo, com o lábio sangrando e a lateral esquerda da cabeça arranhada.
Um e outro pedestres tentavam desvirá-la.
- Não, parem, não façam isso. Alguém ligue para os Bombeiros. Como você se chama? Está me ouvindo?
Fez que sim com o pescoço e respondeu:
- Tamires (se com H ou Y, ou escrito de alguma outra forma, não importa, foneticamente ela se chamava Tamires).
-Tente não mexer o pescoço. Está me entendendo?
Fez que sim com o pescoço mais uma vez.
- Responda falando. Não mexa o pescoço.
Em menos de 2 minutos chegou a ambulância do SAMU e levou Tamires para algum hospital de emergência.
O motorista? Estava sem carteira e sem documento do carro. Ficou em casa! Eu só dei uma saída rapidinho.
Voltei para meu caro. Agora eu estava do outro lado da rua, parado na calçada. Logo adiante tinha um posto de gasolina. Andei pela calçada até onde eu poderia fazer o retorno com mais tranquilidade e espaço.
- De onde você está vindo? - perguntou-me o PM ao me ver dirigindo pela calçada.
- Sou médico e parei aqui para ajudar a moça que sofreu acidente. Agora preciso pegar aquela rua logo ali. - apontei para a ladeira da Cândido de Figueiredo.
Muito a contragosto ele soltou um Ok, pode ir, e me deixou seguir para o consultório sem maiores perguntas.
Espero que Tamires esteja bem.

* * *

A vida é um bumerangue. O que vai, volta. E se você não está atento, volta na sua cabeça.
Paciente de 55 anos chegou a consulta há 3 meses com glicose de mais de 300mg%, com HbA1c 12,2%. Muitos prescreveriam insulina, o que não seria errado; aliás, para muitos, errado é o que eu fiz: prescrevi uma medicação combinada de glibenclamida + metformina em dose máxima e confiei que a glicose baixaria.
Hoje voltou com exames novos, e a HbA1c baixou para 8,3%.
- E olha, doutor, que essa semana ainda passei por um estresse brabo! Acredita que a minha filha foi atropelada segunda-feira aqui no Tanque? Ela estava saindo da escola e...
Pensei cá comigo: segunda-feira, Tanque, uniforme de escola.
- Tamires?
- É sim! - me olhou espantado - o senhor conhece ela?
- Pois se fui eu que, vindo para cá, vi o atropelamento, parei o carro e fiz os primeiros socorros até o SAMU chegar!
Deu para ouvir os pelos de um e de outro se arrepiando em uníssono.