sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Não se faz piada com doença

Em 04 de Janeiro de 1996 minha avó foi encontrada no chão de seu quarto desacordada. Tinha sofrido um AVE hemorrágico por rotura de um aneurisma cerebral. Sobreviveu durante 7 anos restrita ao leito, sem qualquer comunicação com o meio externo senão uns espasmos faciais que ora eram interpretados como dor, ora como algum tipo de compreensão por parte dela. Provavelmente eram movimentos involuntários sem maior significado. Minha avó morou em minha casa com equipe de homecare, com toda assistência de que ela precisava. Vez ou outra internava, mas passou a grande maior parte do tempo em casa conosco.

Desde que dona Marisa foi internada, recebi de grupos de Whatsapp diferentes as imagens de sua tomografia. Recebi piadinhas. Recebi compartilhamentos de textos sobre ela.

E lembrei da minha avó.

Minha avó foi professora e diretora de escola municipal.
Imagino se ela chega ao hospital e um médico de plantão é ex-aluno dela. Reconhece a professora. Envia para o grupo de Whatsapp de ex-alunos do colégio as imagens da tomografia dela. Apesar de ela ter sido uma pessoa formidável, imagino que uma diretora não seja unanimidade entre os alunos. Um ex-aluno lembra daquela vez em que ele foi suspenso (sem lembrar o porquê de ele ter sido suspenso). E completa se dizendo satisfeito de ela ter tido esse desfecho.

Imagino a troca de mensagens escapando às paredes virtuais do grupo. E sendo compartilhadas por aí afora. E chegando a mim, neto, à minha mãe, filha, à minha bisavó, mãe. Imagino o quanto tudo isso aumentaria ainda mais a nossa dor.

Um abraço derradeiro, dona Marisa.
Um abraço em toda a família, em todos os amigos, em todos os companheiros de luta.
Se for possível, abstraiam de tudo que se fala por aí. É difícil, eu imagino. E só fazem aumentar a dificuldade de uma hora dessas.

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