segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Tourada

O consultório fica no vigésimo andar, com ampla vista do Bosque Marapendi e para o edifício que, ao ser construído, eclipsou a Pedra da Gávea, além de uma nesga de praia entre o Atlântico Sul e o Barra Mares. Mas, independente das informações geográficas e paisagísticas, fixem no fato de que fica no vigésimo andar.
A janela de vidro ocupa quase toda a altura da parede, deixando uns trinta centímetros abaixo e uns quarenta acima.
O paciente era um menino de 3 anos e 9 meses, pesando 30 quilos e medindo 1,08 metro. Um touro. Um gigante. Um touro gigante.
Eu me agachei para receber o abraço.
Já da porta começou a corrida, e ele veio na minha direção como um touro gigante na direção do toureiro.
Se eu desse um olé ele ia de cabeça na janela, no vidro, vinte andares acima do nível da rua.
Fiquei onde estava e amorteci no peito a cabeçada. Um aríete nas costelas. Agachado, o equilíbrio é instável, e caí para trás. De costas na janela. Se o vidro não fosse forte o suficiente, o prédio novo que ecilpsou a Pedra da Gávea veria um corpo que cai, ou dois, um maior e um menor, um touro e um toureiro, sacrificados na arena.
Mas não. Eu me levantei assim que pude, do jeito que pude, e dirigi a família para a sala de atendimento.

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