segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Tratamento de crescimento

Atendi uma menina de 7 anos em 2012.
Tinha nascido pequena para a idade gestacional de uma gravidez gemelar e sua estatura estava pouco abaixo do canal familiar, no percentil 10; enquanto a irmã gêmea crescia no percentil 50, no alvo genético.
Expliquei que quem nasce pequeno tem até os 2 anos de idade, no máximo 3, para recuperar a estatura e crescer no alvo, e que se não tinha se recuperado até ali, não se recuperaria mais. Que essa condição é indicação para o uso de hormônio de crescimento. E que quanto antes o tratamento for iniciado, melhor a recuperação estatural.
Ela voltou aos 9 anos e meio.
Estava no mesmo percentil 10, mostrando que a velocidade de crescimento é normal e inalterada ao longo dos anos.
A pediatra (que não é endocrinologista) havia pedido um teste de estímulo de GH com exercício (que dá uma quantidade enorme de falsos não-responsivos, e por isso a gente nem costuma indicar mais), e na ausência de resposta, pediu para repetir com estímulo de arginina oral (que não existe - no teste com arginina a administração é venosa diluída em soro fisiológico, e não dispomos dessa apresentação no Brasil).
Como novamente não houve resposta, a pediatra prescreveu arginina e clonidina, para supostamente estimular o crescimento.
A arginina - como já foi falado - e a clonidina, entre outras medicações, são usadas como estimuladores nos testes para avaliar a capacidade da hipófise de produzir hormônio de crescimento.
Mas:
1) não adiantam nada como estimuladores do crescimento.
2) se a arginina no mínimo é inócua, o mesmo não se pode dizer da clonidina, que pode levar a morte por queda excessiva da pressão arterial. Foi o que aconteceu em 2003 com um menino de Brasília, que usou a medicação por prescrição em fórmula de manipulação de um médico homeopata. Cinco anos depois o médico foi condenado pelo CRM a censura pública em jornal de grande circulação.

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